terça-feira, 6 de abril de 2010

Pecado: Uma definição (parte II)

Falamos a respeito da aliança de Deus com o homem, e como Jesus cumpriu e como entramos nesta aliança. Porém, como é da natureza caída do homem, estragamos as coisas com os nossos pecados. Vimos que mesmo com as nossas tentativas de perturbar o Shalom, nossa aliança com Deus é inquebrável, porque ela não diz respeito ao que nós fazemos, mas o que Deus fez. Vamos, então, continuar nossa definição de pecado. Quando a Aliança foi estabelecida com o povo de Israel, a lei foi dada para formalizar esta Aliança. A lei expressava o desejo de Deus para o homem, aquilo que deveria ser feito pelo homem, para viver em unidade com Deus. Por isto, todo pecado é direcionado, primeiro e finalmente, contra Deus. E assim: “Pecado é qualquer ato – qualquer pensamento, desejo, emoção, palavra ou feito – ou sua omissão, que desagrada a Deus e merece ser denunciado.”[1]
Precisamos fazer algumas dentições sobre a lei dada a Moisés. Até agora havíamos chamado de lei tudo que se referia aos mandamentos de Deus no monte Horebe e repetidos por Moisés em Deuteronômio. Porém, algumas coisas precisam ser separadas, a primeira é que nem tudo o que está estabelecido para o povo de Israel é para nós lei e nos é mandado para obedecer. Mas por quê? A Confissão de Fé de Westminster faz uma distinção muito boa neste aspecto:

Essa lei, depois da queda do homem, continuou a ser uma perfeita regra de justiça. Como tal, foi por Deus entregue no monte Sinai em dez mandamentos e escrita em duas tábuas; os primeiros quatro mandamentos ensinam os nossos deveres para com Deus e os outros seis os nossos deveres para com o homem. Além dessa lei, geralmente chamada lei moral, foi Deus servido dar ao seu povo de Israel, considerado uma igreja sob a sua tutela, leis cerimoniais que contêm diversas ordenanças típicas. Essas leis, que em parte se referem ao culto e prefiguram Cristo, as suas graças, os seus atos, os seus sofrimentos e os seus benefícios, e em parte representam várias instruções de deveres morais, estão todas ab-rogadas sob o Novo Testamento. A esse mesmo povo, considerado como um corpo político, Deus deu leis civis que terminaram com aquela nacionalidade, e que agora não obrigam além do que exige a sua eqüidade geral. [2]
 Três tipos de lei foram estabelecidos em Moisés, e cada uma delas com sua respectiva motivação e princípio. As leis chamadas cerimônias tinham o objetivo de apontar o meio de salvação da humanidade.
Hebreus 10:1-4 Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.
Estas leis prefiguravam o verdadeiro sacrifício, que foi o de Cristo, posto que este foi feito de uma vez por todas, para a salvação dos seus. Tendo uma vez feito, não mais há obrigação de se fazer tais sacrifícios, já que aquilo que prefiguravam aconteceu.
As chamadas leis civis tinham a intenção de formar o estado de Israel, a teocracia, que tinha por governador o próprio Deus. Dizem respeito unicamente a nação de Israel, e portanto, são específicas para o que acontecia com aquele povo. Porém, tais leis têm sua aplicabilidade por meio dos seus princípios, principalmente o de equidade.
Por fim, as leis morais que estão resumidas nos dez mandamentos resumem tudo aquilo que Deus deseja do homem: Relacionamento com Ele e com o próximo. Esta lei, portanto, é mandamento irrevogável e nos serve de ordenança ainda hoje. Contra estas ordenanças se desenvolve todo o pecado, esta lei que está cravada nos nossos corações[3] é deliberadamente desobedecida pelo homem. Por isto, “a disposição para cometer pecados também desagrada a Deus e merece julgamento”[4]. Portanto, tanto o ato quanto a disposição são pecados diante de Deus. É isto que nos fala Paulo em Romanos 1. 28-32:
E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.   
Enquanto morto em seus delitos e pecados, o homem permanece bem vivo para praticar e desejar o mal. A sua disposição é maligna: o homem acorda cheio de vontade de pecar. Nega o conhecimento de Deus, troca a verdade de Deus em mentira, nega-se a dar glória devia ao Deus poderoso, e dá glória a homens e outras criaturas, e assim, torna cada vez mais sua mente reprovável. Os homens buscam respostas pra suas dúvidas, para seus anseios, o seu sentido da vida, nas coisas terrenas: na Ciência, onde confia cegamente em tudo que vem dos seus sentidos enganosos. No Sexo, em busca de satisfazer uma necessidade insaciável, numa desenfreada procura pro prazer. Na sua Própria glória, por não dar glória a Deus, procura alguém pra poder glorificar, e quando não acha em si mesmo motivos suficientes pra glorificar-se, glorifica o outro, por meio de uma idolatria, que pode ser manifestada tanto por invejas, como por uma auto-negação para reconhecimento do outro. Na realidade, este ponto, tem várias facetas. O homem é, desde que nasce, egoísta, e por isto, busca a sua glória, que é manifestada de várias maneiras. O reconhecimento do outro, a inveja, a soberba, a humilhação feita a alguém. E mais um monte de coisas que a disposição do homem lhe permitir. Todos os pecados nascem desta disposição do homem egoísta, que é a cobiça, ou concupiscência da carne, esta vaidade, em fazer tudo aquilo que é pedido pela carne. E concluímos, dizendo que “pecado é uma afronta pessoal e culpável ao Deus pessoal.”[5]  


[1] PLANTINGA, Cornelius, Jr. Não era para ser assim: Um resumo da dinâmica e natureza do pecado. Trad: Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. Pág. 26.
[2] Confissão de Fé de Westminster Cap. XIX.II-IV.
[3] Romanos 2:15-16 Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho. testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,  16 no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.(grifo nosso).
[4] PLANTINGA, Cornelius, Jr. Não era para ser assim: Um resumo da dinâmica e natureza do pecado. Trad: Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. Pág. 27.
[5] Ibid.

Nenhum comentário:

Postar um comentário