Talvez você esteja surpreso porque alguém gastaria tempo escrevendo
contra um evento cristão, que tem o objetivo de refletir e discutir políticas
públicas em favor da justiça social em nosso país. Se você pensou isso, então tente
ler até o final para entender o meu ponto de objeção.
O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, comentando sobre
um caso de incesto na igreja e a aparente negligência dela em disciplinar
aqueles que estavam em pecado, diz que a igreja estava confiante e orgulhosa
naquilo que não era confiável, porque um pequeno problema pode estragar tudo[1]. É
neste princípio que está minha motivação para escrever este texto. Digo isso,
porque, já tendo ido ao Usina 21, vejo
que há coisas muito boas neste evento.
A música é um ótimo exemplo pra começar. A presença da banda Palavrantiga, que foi a motivadora de eu
ter ido ao Usina 21 em anos
anteriores, mostra que o evento incentiva a boa música com bom conteúdo. O
próprio tema do Usina 21 é de grande
relevância. Precisamos pensar na justiça social. Precisamos perceber que a
igreja foi chamada também para amparar o pobre, o órfão e a viúva[2].
Que a igreja precisa ser relevante na sociedade sendo a consciência moral do
Estado. Tudo isso é extremamente importante, e não deve ser deixado de lado.
1.
Leonardo
Sakamoto – A presença dele, que já se repete no Usina, é um grande mistério pra mim. Digo isso porque, ao que me
parece, Sakamoto não é cristão, e pior, é um crítico do cristianismo. O seu
blog, que se dedica a criticar geralmente a violência e o trabalho escravo, está recheado de textos criticando e até ridicularizando os cristãos. Num texto postado em 30/03/2013, Sakamoto nos diz sobre o seu conhecimento da Bíblia: “Mas o discurso fácil que, consumido, decantado, enraizado e ativado, transforma a massa em turba provoca distorções de entendimento sobre as palavras que estão na origem da fé das pessoas. Estudei em escola adventista por nove anos e, ao mesmo tempo, participei bastante da vida na igreja católica perto de casa, tendo sido até coroinha. Por conta, sei razoavelmente o que está escrito nos evangelhos – inclusive nos apócrifos, bem mais interessantes, mas isso é outra história. E, certamente, não é esse discurso de intolerância que grassa em muitos cultos, dos católicos aos neopentecostais”. E também faz uma “brincadeirinha” postanto, num outro texto, de 29/05/2012, um vídeo onde “cientistas gays” teriam achado o gene cristão[3]. Sua visão política, notoriamente marxista[4],
nos faz pensar que os organizadores do Usina
têm um perfil muito delineado de ideologia para o evento, e um cristão, que tem
conhecimento básico sobre a ideologia marxista, perceberá que a presença de Sakamoto
neste evento é um ataque à fé cristã.
2. Ed René
Kivitz – Kivitz é pastor batista, conhecido por suas pregações emotivas e
contundentes. O problema é que ele tem se mostrado, entre outras coisas, um universalista. Em uma pregação sobre o livro de Romanos, Kivitz afirma o seguinte[5]: “Nós
não temos de sair anunciando: ‘Olha, você é um pecador miserável, você está
condenado ao fogo do inferno. Deus está irado contra você, Deus não vai deixar
barato a sua maldade. Deus vai cobrar de você cada ato, cada pecado, cada
transgressão, cada expressão do seu caráter mesquinho, Deus vai cobrar, vai exigir
e vai cobrar muito caro. Mas você tem oportunidade agora de entregar sua vida a
Jesus. Eu não acho que isso aqui é uma boa notícia. Eu acho que
boa notícia seria assim: ‘Você é um filho de Deus, você é uma filha de Deus, Deus
não está irado contra você[6].
Deus ama você. E eu queria dizer a você que você não é obrigado a viver uma
vida miserável. Porque o poder da ressureição de Jesus e o sopro de vida de
Deus, que a Bíblia Sagrada chama de Espírito Santo. Esse vento que é a vitalidade
de Deus e a própria pessoa de Deus comunicando vida. Esse Espírito como Deus
que habita em nós. Você não está condenado a viver uma vida miserável, porque o
Espírito de Deus já age na sua vida’”[7]
[sic] (grifo nosso). E se isto ainda não convenceu você, leia isso: “Eu fica
imaginando, quando estivermos no Céu, o susto que nós não levaremos. Eu tenho
este desejo de, na ressureição, ver o Céu povoado por toda raça humana. E
alguém vai dizer assim: ‘Como foi que eu vim parar aqui?’. E ai, você se tiver lá, você
vai virar pra alguém do seu lado e falar assim: ‘Como foi que eu vim parar
aqui?’. Se quem estiver do seu lado for uma pessoa que foi crente, que conheceu
a Bíblia, o Evangelho, diz assim: ‘Você veio parar aqui porque Jesus te trouxe’.
E se a pessoa perguntar assim: ‘Como é que eu consegui chegar aqui?’. Aí, o
camarada que era crente, aqui, nesta terra, antes de chegar lá, vai virar: ‘Não,
não é que você conseguiu chegar aqui. Inclusive se dependesse de você, você nem
teria vindo. Jesus te trouxe. Porque Jesus quando morreu na cruz ele incluiu
você, e levou com ele todo o seu pecado e toda a sua rebelião...”[8] [sic]
(grifo nosso). A pregação é longa e você poderá assistir toda se quiser. Mas
não há dúvidas da proposta dele. Ele quer acreditar que o inferno está vazio e
que mesmo aqueles que não criam e nem conheciam a Cristo irão, através dele,
para o Céu.
Muito mais poderia ser dito sobre o evento, mas acredito que as razões
aqui nos transparecem com certa clareza o conteúdo ideológico deste evento. O
que se espera de um evento que compõe em seus palestrantes um grupo tão
diferente de crenças ou teologias, unidos por um objetivo, que não é Cristo,
mas uma ideologia marxista? Ou a facilidade em abandonar certas doutrinas centrais da igreja cristã. A presença de Sakamoto e Kivitz nos deixa com certa
clareza do objetivo do evento.
Espero que este texto não tenha sido enfadonho, mas esclarecedor e tenha
deixado o leitor com uma pulga atrás da orelha. Se isso acontecer, meu objetivo
foi cumprido. Desejo, em Cristo, que a juventude esteja cada vez mais disposta
a falar sobre o Evangelho e justiça social, mas que faça isso com a base
correta, por meio da revelação da Escritura.
[1] “O
vosso orgulho não é bom. Não sabeis que um pouco de fermento faz com que toda a
massa fique fermentada?”. (1 Co 5. 6 Almeida Século 21).
[2] “A religião pura e imaculada diante
do nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas dificuldades
e não se deixar contaminar pelo mundo”. (Tg 1.27 Almeida Século 21).
[4] Se
você quer saber por que isso é ruim, leia esse texto e outros da autora: http://normabraga.blogspot.com.br/2010/03/por-que-nao-sou-de-esquerda.html
[6] Apóstolo
Paulo não concordaria: “Pois a ira de Deus se revela do céu contra toda
impiedade e injustiça dos homens, que impedem a verdade pela sua injustiça”. (Rm
1.18 Almeida Século 21).
[7] Sequência
do vídeo: ~36:00-37:33.
[8]
~40:38-41:57.